segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Líderes do mundo fracassam na COP15

Os líderes mundiais mostraram hoje sua incapacidade de colocar seus interesses particulares – especialmente econômicos – acima das necessidades da humanidade. As milhões de pessoas que dependiam de uma decisão ambiciosa que de fato controlasse o aquecimento global foram abandonados à sua própria sorte.

Os 120 chefes de Estado reunidos em Copenhague, na COP15, falharam. Eles colocaram suas prioridades domésticas acima de um compromisso global. E quem vai pagar mais caro são justamente os mais pobres e vulneráveis. “O acordo não é justo, ambicioso, nem legalmente vinculante. Os líderes falharam em evitar o caos climático. Este ano o mundo enfrentou uma série de crises e com certeza a maior delas é a crise de liderança”, diz Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace no Brasil.

Os chefes de Estado abandonaram a COP15 sem declarações públicas e, principalmente, sem cumprir seu mais essencial objetivo: evitar os efeitos perigosos das mudanças climáticas. Um “acordo de Copenhague”, costurado por 30 dos quase 200 países que integram a Convenção do Clima, é fraco e não representa nem um começo do que é necessário para controlar as alterações no planeta. Muitos países da América Latina, da África e pequenas ilhas se recusaram a se associar ao texto, em uma clara demonstração de repúdio.

O tal “acordo” determina que os esforços devem ser feitos para manter o aumento da temperatura em menos de 2°C e coloca algum dinheiro na mesa para começar a ajudar os países mais pobres a se adaptarem ao aquecimento global. Mas falha em seu cerne, ao não determinar uma meta ambiciosa de corte das emissões de gases-estufa. Sem isso, qualquer esforço de adaptação é insuficiente.

O presidente americano Barack Obama afirmou ontem, depois de abandonar a conferência, que o acordo de Copenhague representava a esperança de uma conclusão feliz de negociações que estão apenas começando. Afinal, segundo ele, conseguir um acordo com valor legal é “difícil” e toma tempo.

A questão é que o aquecimento global não espera as vontades e as dificuldades enfrentadas pelos políticos. A justificativa não convence suas vítimas. Longe dos corredores acarpetados de Copenhague, Washington, Genebra, Pequim e Brasília, as populações mais vulneráveis do planeta vão sofrer pela inação desse grupo.

“A cidade de Copenhague foi palco de um crime, com os culpados correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”, afirma Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace International. “Presidentes e primeiros-ministros tiveram uma chance de uma em um milhão de mudar o mundo para sempre e impedir que o clima entre em colapso. Produziram apenas um entendimento cheio de omissões.”

Um acordo com força de lei, justo e ambicioso precisa ser fechado para controlar as mudanças climáticas. Os países desenvolvidos, que têm a maior responsabilidade, precisam cortar em 40% as emissões de gases-estufa em relação a 1990 até 2020. Os países emergentes também precisam fazer mais, com redução da taxa de crescimento de suas emissões. É preciso zerar o desmatamento das florestas tropicais e criar um mecanismo que financie ações de adaptação e mitigação nos países pobres. Sem nada disso, o mundo sai da COP15 deixando o presente e o futuro da humanidade em perigo.

A sociedade cobrou com propriedade a ida de seus presidentes para lá, para que assumissem posições corajosas. Eles foram, mas cumpriram apenas metade de seu papel. “A ideia de pressionar para que os líderes viessem para cá era justamente criar as condições para que houvesse uma decisão. Decidiram não decidir”, diz Paulo Adario, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace. “Eles deveriam ter vindo para cá com uma perspectiva global. Chegaram com os dois olhos virados para seus próprios quintais. Copenhague era o momento de ser ousado, de ter visão global. Comportaram-se como provincianos.”

A reunião de cúpula terminou da mesma maneira que começou, sem metas ambiciosas de corte de emissão, sem recursos financeiros para longo prazo e sem um texto consensual, com força de lei, que assegure seu cumprimento junto à comunidade internacional. “Temos de seguir em frente. Não apenas com marchas nas ruas, mas engajando o setor privado, o movimento social e os governos locais para transformar nossa comunidade e criar mais pressão política nos nossos governantes”, diz Furtado. “Afinal não podemos mudar a ciência, mas podemos mudar os políticos.”

fonte: Greenpeace.org
12/2009

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